MADONA DOS CACHORROS E DO BAIRRO DO RECIFE
Madona... a linda e sensual stripper que em 1995 me deixou encantado
São 8h de um dia normal de trabalho. As pernas apressadas, as
buzinas dos automóveis, as angústias alheias ou mesmo o forte calor ou frio
passam despercebidos diante do acordar preguiçoso de Madona e dos seus
cachorros Mineiro, Crioulo e Alexandre. Apesar de não ter endereço certo, sua
cama de papelão e os poucos objetos que possui ficam abrigados em frente a uma
lanchonete – hoje desativada – ou a uma agência bancária, ambas na Avenida
Marquês de Olinda, no Bairro do Recife.
Para os desavisados, os olhares são
de desprezo ou de curiosidade, diante de uma figura ora agressiva, ora louca,
ora alegre, que dança, grita e solta os piores palavrões. Para quem trabalha na
região e acompanha o dia-a-dia dessa moradora de rua, sentimentos de dó e
carinho se misturam à indignação diante de tal (falta de) condição humana: não
são raros os momentos nos quais Madona, bêbada, tira suas já escassas roupas ou
fica a conversar e mimar os seus cães, com chupetas, colo e carinhos.
Apesar de
ter um atestado de insanidade, segundo afirmação de sua irmã Josenilda Gomes de
Oliveira, 47 - a Tuca, como é conhecida - Madona dos Cachorros, quando não está
sob o efeito do álcool, prova que a sua “loucura” é mais uma tática de
sobrevivência, que poderia facilmente ser utilizada por qualquer um de nós. “Eu
sempre precisei me defender. Hoje ainda mais. Aliás, quem não precisa se
defender nesse mundo?”, solta a moradora de rua, com aquela sabedoria de quem
aprendeu na escola da vida.
Com suas
frases “eita, que homem bonito danado” ou “veja como ela parece com a Kelly
Key”, ela vai ganhando R$ 1 aqui, outro ali, para comprar sua cachaça e o leite
dos cachorros. Às vezes, quando a bebida permite, ela ainda vai ao Mercado de
São José e consegue alguns restos dos comerciantes de lá. “Eu mexo com todo
mundo né, menina? Não tem jeito pra mim”, brinca.
O que
pouca gente sabe – mesmo quem já “convive” com ela há certo tempo – é que, por
trás da degradante aparência, Madona já foi uma mulher belíssima e uma das mais
desejadas entre marinheiros e boêmios que viviam nos bares e boates das noites
do Recife Antigo, entre as décadas de 80 e 90.
“Eu fui dançarina primeiro que ela. Comecei
a batalhar com 11 anos, e ela me seguiu quando completou 13. A gente batalhava juntas
com gringos, principalmente gregos e filipinos, e ganhava em dólar. Madona era
uma loira de cabelo grande, comprido, cintura fina, alta, pernão. Ela era loira
original. E ainda tinha estudado e falava inglês muito bem. Fazia bastante
sucesso entre os homens”, conta sua irmã Tuca.
José
Carlos da Silva, o Robô, que trabalha há 40 anos no Bairro do Recife com
diversos tipos de serviços, diz que conheceu Madona desde menina, sempre com
esse mesmo nome. E ele garante: “ela era muito bonita”. “Quando cheguei aqui,
ela já fazia prostituição. Aí depois ela viajou, arrumou um estrangeiro. E
quando voltou, voltou desse jeito (ele se refere ao jeito não convencional de
Madona). Nos outros lugares, acredito que ela tenha feito prostituição também”,
conta Robô.
Para Tuca,
a situação atual da irmã só aconteceu devido a uma macumba feita por uma
prostituta, na época em que ela morava no Porto de Santos. “Lá em Santos,
Madona ganhou muito dinheiro. Tinha uma puta que tinha um estrangeiro e Madona
ficou com ele. Acho que ela fez um catimbó pra Madona. Porque, desde lá, a vida
da minha irmã não deu mais certo, o cabelo dela, que era grande, começou a
cair. Ela foi morar em São
Paulo , na casa da minha irmã que mora lá. Aí teve um acidente
de carro e hoje ela tem uma platina no braço e outra na cabeça. Quase que
morre”.
Desse
episódio de sua vida, Madona não se esquece: “Foi minha mãe que mandou eu
voltar pra cá. Eu estava num cativeiro (no hospital) e não tinha dinheiro pra
voltar”. “Depois desse acidente, Madona, que nunca foi muito aprumada, endoidou
de vez”, lamenta Tuca.
Em 1995, às vésperas da inauguração da revitalização do RECIFE ANTIGO - Rua do Bom Jesus, resolvi fazer uma incursão pelo antigo bairro na expectativa de tomar um gole e reencontrar aquele reduto da boemia na minha adolescência.
Lá encontrei, em uma boate, a bailarina Madona, encantadora, sedutora, com dezenas de homens aos seus pés.
Surpreso, escrevi este post, cujo link divido com vocês.
A reportagem acima, do Diário de Pernambuco, me foi enviada pelo amigo Marcílio Cisneiros.
A "Madonna dos Cachorros" não era a mesma Madonna que passeava nua sobre as mesas no Zona Franca. Quem diz isso não conheceu a striper, só essa. Inclusive a dos cachorros morreu a alguns anos e a striper é viva. Nos jornais daqui saíram várias reportagens falsas só explicáveis pela preguiça de pesquisar e daí escrever qualquer besteira. Teve uma identificando a atriz mirim dos anos 1960, Erin Murphy, que fazia a feiticeirinha Tabatha com uma atriz pornô, também norte-americana, que usou pseudônimo parecido nos seus filmes.
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