De Repente ! ... M A D O N A ! ! !


À Zero Hora Madona Tirou a Roupa e DanSou Para Mim...



Dedico este texto a Carlos Franca - também conhecido, pelo seu amor à Ilha de Fidel, como Carlos Cuba - a quem devo tantos favores e não reencontro há muitos anos.

Adoro o inverno aqui no litoral nordestino. Talvez por ser curto, não trazer muito frio, nem chuvas excessivas. Talvez, também, por funcionar mais como um pedaço de estação a evitar que o verão seja único, e venha a se tornar cansativo. É como a noite entre os dias: por mais que nos ofereça atrações, por mais que nos atiremos aos seus prazeres, é nela também que recarregamos as baterias para vivermos o “inesperado” que vem com o sol.

Naquele início de Novembro de 1995, eu estava ainda mais motivado que de costume. Meu primeiro barzinho, o El Bodegón – Barzinho Típico Cubano - estava indo de vento-em-popa, e eu acabara de chegar da cidade do México com as principais receitas de coquetéis e pratos típicos, discos dos principais cantores românticos, além de toda uma colorida decoração, garimpada pacientemente em todos os mercados de artesanato daquela encantadora cidade, para montar o meu El Paso Cabaré, no Recife Antigo.

Já não conseguia mais respirar apenas Cuba, como fizera nos últimos cinco anos. Agora estava dividido entre as Mariquitas e os Tacos, entre os Mojitos e as Tequilas, entre Varadero e Yucatan, entre a Salsa e o Bolero, entre La Bodeguita del Médio com seus trovadores e a Plaza de Garibaldi com seus Mariaches, entre Malecón e Passeo de La Reforma... Entre Fidel e Zapata.

Gosto imensamente quando algum objetivo me arrebata por inteiro. Sei do esforço que sou capaz de despender para vencer as dificuldades que vão surgindo; da criatividade que brota fácil para solucionar questões estéticas, e da coragem para deixar de lado o inatingível, focando com o mesmo entusiasmo o que é possível, se bem que, até às margens do impossível. Acho mesmo que esse caminhar nos limites - só agora eu reconheço - é uma das características minhas das quais nunca consegui me desvencilhar, justamente por nunca haver dispensado qualquer esforço nesse sentido.

Numa quarta-feira daquele mês, aceitei convite de Carlos Franca para deixar um pouco de lado aquela dedicação toda pelo El Bodegón, e sair para tomar um uísque em outro bar. Sugeri então que fosse no Bairro do Recife – ainda não revitalizado – pois a diversão serviria também como observação do que acontecia por ali.

Após algumas voltas de carro pelo bairro quase deserto - com exceção de uns dois bares com alguns clientes em mesas nas calçadas - percebemos que em frente a um daqueles casarões antigos, havia um pequeno grupo de homens conversando com dois porteiros vestidos a caráter, com gravatinha borboleta e tudo mais. “Vamos ver o que é isso aí!” Falei pra Carlos enquanto estacionava em frente ao grupo.

Um dos porteiros nos informou que era uma boate, e que havia show de danças. Pagamos a entrada e subimos por uma escada estreita, com degraus em madeira antiga, que rangiam sob nosso peso. Não percebíamos som algum... Já começávamos a desconfiar que havíamos feito um mau negócio quando, ao abrirmos a pesada porta revestida de cortiça, o som quase nos empurra pela escada abaixo: era altíssimo, num ritmo alucinante, acompanhado por um piscar estonteante de luzes coloridas, potencializado por um globo de pequenos espelhos, a girar no teto. Demos dois passos adiante e a pesada porta fechou-se às nossas costas. O público era predominantemente masculino, com três ou quatro exceções, e contorcia-se com os braços levantados, olhos fechados e corpos encharcados de suor, numa coreografia que chegava a parecer ensaiada, face os efeitos das luzes e do excesso de fumaça de dezenas de cigarros acesos. Ficamos por um minuto estáticos, surpresos com aquela inesperada loucura. O espaço media aproximadamente sete por vinte metros, e estava “abarrotado” de homens. As mesas, redondas, ficavam muito próximas umas das outras, e não havia mais nenhuma desocupada. Sentamo-nos então em dois bancos, ao balcão em forma de “esse”.

Tudo acontecia às nossas costas, com exceção da dança de garotas em trajes sensuais, num palco em forma de ringue, à nossa esquerda.

Pedimos dois uísques e um pratinho de filé com fritas.

Sentado meio de lado, podia acompanhar a agitação dos fregueses e as performances das bailarinas semi-nuas. Não achei caro o ingresso, justamente por conta da surpresa que tive em encontrar um ambiente daqueles, naquela parte abandonada da cidade.

Terminamos nosso uísque e, quando nos preparávamos para pedir a conta, uma voz masculina anunciou ao microfone:

- Dentro de mais trinta minutos, o mais esperado show da noite recifense: Madona! Num espetacular streap tease!

Puxa! Ainda ia haver um streap tease?! Falei então, todo entusiasmado pra Carlos:

- Não sai ninguém!

E pedimos mais dois uísques...

Ao anúncio, seguiu-se uma ensurdecedora gritaria. O som voltou mais alto ainda, e a agitação chegou a causar-me um certo receio de que tudo ficasse incontrolável.

Estávamos no quarto uísque quando, inesperadamente, as luzes todas foram apagadas por cerca de cinco curtíssimos segundos, tempo bastante apenas para que os corpos perdessem o embalo, os gritos loucos silenciassem, e os olhos se abrissem e girassem, em direção ao palco sem luz. Foram segundos de uma expectativa indescritível!!!...

A luz foi voltando aos poucos, num facho amarelo dirigido ao centro do palco, onde encontrava-se deitada uma mulher loira que, aos poucos, ritmadamente e sensualmente, foi-se erguendo. Levantou-se sobre dois finíssimos e longos saltos de um par de reluzentes sapatos pretos, com uma pequena borboleta prateada em cada um deles. O curtíssimo vestido em tecido azul metálico, refletia em diversas direções, a luz do canhão que seguia como um escravo, aquela mulher de corpo escultural, caprichosamente bronzeado, que estava dentro dele.

Como num jogo de esconde-esconde, o vestido foi se preparando para sair de cena. O fechecler nas costas, abria um pouco mais a cada volta de Madona, até permitir que os encantadores seios começassem a aparecer, num jogo sensual onde o vestido subia e descia, e as alças, que há poucos seguntos atrás haviam sido colocadas sobre os ombros, agora caiam sozinhas, sob o comando do gingado daquele corpo lindo. Quando o vestido voltava a cobrir o seio que quase espontaneamente aparecera, era a hora do outro entrar em cena, e tremer como gelatina ao comando de Madona.

De vez em quando eu arriscava uma olhada rápida na platéia. Estava concentrada: olhos fixos naquela artista encantadora, bocas abertas soltando gemidos, gritos, sussurros, enquanto seus corpos num leve balanço coletivo, no mesmo ritmo do de Madona, sugeria um inusitado “ménage à centaine”...

O vestido foi atirado para o lado, sem que ela perdesse o balanço. Agora estava apenas com uma penetrante calcinha preta. Trabalhava os seios colocando-os sobre as mãos, e tentando convencer-nos de que era possível ergue-los ainda um pouco mais. Ou, após molhar as pontas dos dedos provocantemente na língua, acariciava os mamilos e as tetas, enquanto o jogo de cabeça e as expressões dos olhos e da boca, nos davam certeza de que teria mais um orgasmo.

A platéia percebia o que lhe era sugerido, e os gemidos, gritos e sussurros, aumentavam. Estávamos todos sob uma densa penumbra. A única luz existente estava sobre o corpo de Madona, e ela se deliciava em exibi-lo. Não havia censuras.

A calcinha demonstrava que daria trabalho para sair de cena. Depois de muitas contorções insinuantes, Madona soltou a presilha dourada de um dos lados, enquanto mostrava o “derriére” de lindas curvas. Chegou a vez da outra presilha e, quando todos nós esperávamos que aquela última peça caísse sozinha... que nada! Apenas as duas partes de cima, agora separadas, arriaram. O pedaço mais íntimo ficou lá onde estava, preso entre as curvas daquela "pecadora". Segurando a parte da frente com uma das mãos e a de trás com a outra, iniciou movimentos de vai e vem com a calcinha entre as coxas, enquanto excitava a todos com movimentos do seu corpo, que sugeriam o clímax. A platéia foi à loucura.

Já começava um empurra-empurra, que eu julgava ser pela proximidade do final do show. Mas, quando eu menos esperava, num movimento em três tempos, iniciado por um leve agachamento, seguido de um puxão que desencaixou a calcinha, e um terceiro, que foi o de atirar "irresponsavelmente" aquela peça carregada de suores e odores, no meio de todos aqueles homens, Madona me fez despertar do transe em que me encontrava, para proteger-me da briga coletiva que se iniciaria pela conquista daquele troféu. Mas, não!... Havia algo como um pacto entre aqueles fiéis admiradores e coadjuvantes do show. O que saltou mais alto e alcançou a calcinha ainda no vôo, não foi incomodado por ninguém, embora tivesse que atender a todos os pedidos para um cheiro demorado, na parte que ficara mais tempo presa.

O balconista enchia nossos copos assim que os esvaziávamos. Não reclamávamos. Era aquilo mesmo que queríamos, pois, já estávamos nos sentindo abitouéls.

Enquanto o novo dono da calcinha atendia os inúmeros pedidos, intercalando-os com suas próprias cheiradas, dois seguranças aproximaram-se de Madona e colocaram-na sobre a mesa mais próxima ao palco.

Meu deus! Como era corajosa!

Enquanto dançava sensualmente naquele pequeno espaço, os clientes daquela mesa tinham direito de acariciá-la e beijar o seu suado corpo.

E assim foi, de mesa em mesa, sempre protegida e ajudada pelos seguranças, para passar de uma mesa à outra sem pisar no chão. As mãos acariciavam respeitosamente o seu corpo e os beijos iam até onde Madona permitia, ao agachar-se mais, ou menos.

"Puxa vida! Que pena não havermos encontrado mais nenhuma mesa desocupada ao chegarmos!".

Contentávamo-nos, então, em vê-la passar nas mesas mais próximas, sentir sua respiração já muito ofegante, ouvir as palavras de elogio a cada parte do seu corpo, pronunciadas por aqueles também ofegantes fãs. Uns mais ousados, derramavam cerveja no vale que se formava verticalmente em suas costas, e a aparavam com língua e nariz espremidos entre suas nádegas. Isso podia... colocar o dedo não! Havia regras que não estavam escritas, mas que eram seguidas respeitosamente por todos, em benefício da continuidade daquele show.

Quando Madona foi até a última mesa, que ficava no final do longo e sinuoso balcão da boate, pedimos a conta. O balconista havia nos avisado que ali seria o final do show.

Distraídos com a conta, não percebemos que Madona havia pedido para que a música continuasse, e que os seguranças a colocassem sobre o estreito balcão. Extasiado, vi que aproximava-se de mim com requebros enlouquecidos, e o olhar fixo no meu. Dava pequenos goles numa garrafinha de cerveja que trazia em uma das mãos, e mantinha os olhos ainda nos meus. Levantei-me do banco e a esperei, da mesma forma que todos aqueles outros homens a haviam esperado em suas mesas: com ansiedade, desejo de tocá-la, de molhar-me em seu suor, sentir seus cheiros. Ao chegar na minha frente, com requebros lentos foi se agachando, agachando, até ficar com a boca na mesma altura da minha. Deu um grande gole na cerveja e beijou-me, despejando em minha boca metade daquele gole. Em seguida, virou-se, requebrou, balançou ainda agachada, e esperou que lhe retribuísse a ousadia... E assim o fiz: beijei suas costas, acariciei seu corpo, molhei meu rosto e minhas mãos em seu suor, senti seus cheiros e a recebi em meus braços quando, lentamente, escorregou do balcão sobre mim.

Enquanto os seguranças a cobriam com uma capa vermelha brilhante, e a recolhiam para os bastidores, o balconista exclamou:

- Nossa! Ela nunca havia feito isso!. Nunca havia dançado tão fogosa como hoje!




Comentários

  1. E a sensualidade pousa sutilmente...
    Aqui, as idéias chegam sem pedir licença e, o escritor, à mercê da fértil imaginação e das palavras, escreve e extasia-nos a todos...
    E a festa da vida, num compasso frenético e sensual, amplia-se com:_"De Repente...MADONA...!_ mais um maravilhoso texto escrito por ti!
    PARABÉNS, grande Rodolfo,
    ler-te é bom demais!
    Sou tua fã, desde e até sempre...
    Meu cheiro,
    Lou.

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  2. Anônimo12:13 AM

    Rodolfo, sou Camila irmã de Rodrigo, que faleceu em 25.11.06. Não consegui seu e-mail através do orkut e gostaria de entrar em contato para lhe enviar um e-mail e mais detalhes sobre a missa de trigésimo dia.

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  3. Anônimo8:36 AM

    Presenciei muito essa cena nos meus tempos de boêmia. Essa mulher era um espetáculo. Infelizmente morreu na sarjeta. Não merecia.

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