Eliezer Jorge dos Santos Filho - Meu Amigo Partiu












Cheguei à praia de Tambaú cavalgando os meus 19 anos. Achava que já estava pronto para tudo o que a vida colocasse à minha frente, e que tinha experiência bastante para distribuir com todo mundo. É bem verdade que a minha história, a partir dos dez anos, era realmente bem diferente da história de todos os amigos que até então tivera.

A saída de casa já aos 10 anos para estudar em Caruaru, o retorno à casa aos 17 após ser reprovado no meu último ano de Americano Batista. Esse fora um ano atípico. Aprendi nele tudo o que o Colégio não me ensinara, sob a batuta do querido primo, amigo e pai Marquinhos (Marcos Nunes).

Saí outra vez aos 18, agora para trabalhar. Até então morávamos em Umbuzeiro, na divisa da Paraíba com Pernambuco. Papai foi transferido para João Pessoa no ano seguinte, enquanto eu morava na casa da minha querida Tita (tia Dolores) em Caruaru, onde também estudava à noite, e trabalhava em São Caetano.

Naquela época voltei a encontrar Tâmara (A Rainha do Cacareco).

Não fazia mais sentido morar longe de casa. Meus pais agora moravam à beira mar. Larguei o emprego atendendo uma carta de papai, e caí nos braços das pessoas que mais amava.

Eliezer nascera em Tambaú, e parecia que estava me esperando havia séculos. Primeiro foram as “peladas” à beira mar, depois as pescarias madrugada a dentro sob a destreza do inesquecível Antonio Sales. Tudo isso sempre acompanhado de uma boa cachaça.

Em seguida conhecemos as famílias um do outro, e isso nos aproximou ainda mais. Na casa de Eliezer tinha Dona Benvinda, e Marlene, sua irmã, que não atendia aos meus apelos. Na minha tinha uma reca de animados irmãos que, apesar de mais jovens, também participavam de algumas das nossas traquinagens.

Tínhamos namoradas fixas, mas após sairmos de suas casas, íamos nos encontrar com as “secretárias” das casas dos nossos amigos que, à noite naquela Tambaú dos anos 70, não tinham muito a fazer senão nos arrastar para trás dos nossos quintais.

Nos fundos da casa de Eliezer tinha um quartinho que era invadido por nossa turma todas as tardes. Ali se ouvia a melhor música, de erudita a MPB. Chico, Caetano, Gil, Betânia, Carlinhos Lyra, João Gilberto... Do lado de lá vinham os Beatles, Bee Gees, Rolling Stones, Yves Montand, Charles Aznavour, Edith Piaff... E também os clássicos, que começamos com os noturnos de Chopin, até chegar a Brahms, Tchaikovsky, e Liszt. Quando queríamos tirar onda, dizíamos curtir mesmo era Paganini.


Através da amizade de Eliezer conheci os clássicos da literatura inglesa, principalmente a obra de Charles Dickens, de quem desenhei a crayon um grande quadro por encomenda do seu cunhado, diretor da Cultura Inglesa, para comemorar o centenário de nascimento daquele escritor.

Fizemos juntos concurso para locutor de uma rádio nova que já estava em fase de testes em nossa Capital; juntos vendemos livros para ganhar a grana da cerveja; juntos virávamos a madrugada em algum cabaré de João Pessoa ou Cabedelo, já que nossas namoradas à época eram intocáveis, e muitas noites dormiam embaladas por canções de Roberto Carlos em nossas serenatas desafinadas.

Juntos desmontamos a máquina Remmington de escrever do cunhado de Eliezer para saber por que a letra “c” estava desalinhada, e nunca mais conseguimos remontar (nunca vi tantas minúsculas peças juntas); juntos roubávamos à noite as galinhas da mãe de Eliezer (ele dizia antes quais as que podiam ser aliviadas), para saboreá-las com algumas garrafas de Serra Grande no dia seguinte.

Eliezer faleceu no último dia 12, em Brasília, onde morava há anos como Restauranteur bem sucedido e me ligava quando era Natal ou seu Flamengo derrotava meu Botafogo


Recebi a notícia da sua filha Isabela e da sua esposa Rosângela.

Choramos juntos.





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