Meu Casamento com Nadja e a União entre Brahms, Baremboim e Perlman.

Com grinaldas, mas sem véu algum.
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Ao coração do meu amor.
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Domingo 10.02.08

Programei a TV para me acordar às nove horas, sintonizada no canal senado (ocasião única de se receber nessa emissora um conteúdo não horripilante), e despertei ainda cansado após apenas três horas e meia de sono, ao som do violino de Itzhak Perlman sustentado suavemente pela orquestra filarmônica de Berlim, atenta aos movimentos sem floreios do já imortal maestro Daniel Baremboim.

Ouvi o início do primeiro movimento ainda deitado. Desde os primeiros acordes de Perlman apenas meus ouvidos resistiam ao sono. Não conseguia abrir os olhos e movi a mão apenas para dar volume ao som da TV. Acompanhava a melodia como uma velha conhecida e só então acordei por inteiro, empilhei travesseiros às costas e arregalei bem os olhos para identificar nas letrinhas o concerto para violino e orquestra – opus 77 de Brahms.

Na minha primeira viagem à Cuba de Fidel, trouxe na bagagem – além de música cubana para o meu “El Bodegón”, coincidentes 77 discos russos de música erudita. Alguns foram ouvidos apenas uma vez, mas, a maioria, embalou minha primeira hora de cada dia desde então, assim como hoje, ainda na cama.

Não sou nenhum expert em música clássica e ainda desconfio que nas primeiras incursões por esse encantador mundo, fui levado – ainda adolescente - principalmente pela curiosidade em descobrir porque os nossos ouvidos tupiniquins não recebiam com o mesmo inusitado e verdadeiro prazer, os sons dessas partituras tão rebuscadas, aplaudidas tão entusiasticamente no Velho Mundo. Matei logo essa curiosidade ao perceber que é impossível se gostar do que não se conhece, e começou então, a partir dos acordes mais melodiosos de Chopin, Liszt e Beethoven, uma paixão que foi, paradoxalmente, levando-me aos braços (leia-se “acordes”) de Tchaikovsky, Dvorák e Brahms.

O “allegro non troppo” daquele primeiro movimento chegava ao fim com a força mais utilizada para finalizar as grandes sinfonias, arrepiando-me os pelos dos braços e pernas e, fazendo-me perceber - enquanto eu me reposicionava nos travesseiros - que hoje, diferentemente dos dois últimos anos, o meu amor não estava ao meu lado, com a cabeça suavemente pousada no meu peito nu, em silêncio, dividindo comigo, também esse prazer.

Resolvi ali, naquele instante, que faria esta homenagem a Brahms, Baremboim e Perlman, trazendo-os para o meu blog.
Os acordes, agora do segundo movimento em “adágio”, sugeriam paz, reflexão, romantismo. Busquei através dessa minha fértil imaginação a figura do sisudo Brahms molhando a pena no tinteiro para dividir com todas as gerações futuras a grandiosidade da sua arte. O gestual preciso e quase contido do maestro Baremboim mantinha uma das três melhores orquestras filarmônicas do mundo em segundo plano, enquanto seus olhos se dividiam entre os músicos sob sua regência, e a peculiar fisionomia de Ithzak Perlman que parecia, por sua vez, reger Baremboim com os movimentos do seu inquieto, preciso e sonoro arco.

Ali estava um casamento perfeito, ou melhor ainda, um simples – embora encantador – casamento, com começo meio e fim.

Se trouxera Brahms com sua sisudez de tão longe, porque não trazer Nadja, o meu amor, que está apenas a algumas dezenas de quilômetros e tem seus cheiros ainda impregnados nos travesseiros e lençóis? Trouxe-a... Deitei-a ao meu lado e lhe ofereci o peito nu.

Em perfeita sintonia com o clima do quarto, Brahms nos presenteava agora com o terceiro movimento em “allegro giocoso, ma non troppo vivace”. Virou uma festa... A orquestra não aceitava apenas o segundo plano e irrompia em lindos acordes agora com as trompas a todo sopro, quase encobrindo o recorrente e encantador tema principal trazido pelo violino de Perlman que, enquanto o executava, tentava esconder um debochado, vaidoso e adolescente sorriso, mantendo os olhos sempre cerrados e as sobrancelhas e bochechas dançando num “allegro giocoso” ritmo. O “gran finale” desse concerto não é majestoso, mas é encantador, com as notas do violino claramente perceptíveis apesar dos acordes em uníssono dos instrumentos da orquestra, num exemplo de convivência harmoniosa, onde cada um permite, aceita e aplaude o brilho do outro; num diálogo rápido e inteligente da orquestra com o violino de Perlman, cada um a seu tempo, criando uma expectativa a cada acorde mais forte de que aquele será o último do concerto.

Esta semana viajei a João Pessoa para conhecer pessoalmente o meu sogro Sávio Rolim, pedir a mão de Nadja e a sua bênção para nossa união. O pedido foi aceito “com muita honra” nas palavras dele. Desejo que convivamos como sugere esse concerto ao manter às vezes a força da orquestra em segundo plano, para que o brilho suave do frágil violino seja pleno; que cada um tenha espaço nessa partitura da vida a dois, para executar seu tema principal sob os aplausos do outro; que as simples notas ou acordes do dia-a-dia possam sempre ser “arranjados” com criatividade para que não se tornem cansativos com o passar dos anos; que sejamos ao mesmo tempo compositores, instrumentos, solistas, maestros e, principalmente, expectadores e ouvintes atentos da música que o outro trás consigo e às vezes nem tem a necessidade de mostrá-la.


Ouça o áudio, com os três movimentos:


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Comentários

  1. Anônimo10:10 AM

    Que texto belíssimo, amor. A suavidade nas palavras, a condução de forma harmônica, simples e deliciosa. A junção dos nossos sentimentos com o equilíbrio da orquestra e o vigor do violinista, me fez pensar que é assim que devemos conduzir nossa relação. Com a força, brilho, espaço, aplausos, criatividade, verdade e amor necessários. Emocionou-me quando citou a sua vinda para João Pessoa conhecer o sogro Sávio Rolim e pedir minha mão em casamento. Acabei de assitir a apresentação na tv, e confesso que senti o pulsar de seu coração, quando me envolvo nos seus braços e me sinto afagada e protegida no silêncio do nosso quarto. Um beijo nosso.

    Nadja Rolim

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  2. Anônimo2:20 PM

    Rodolfo - Boa tarde!
    IncomENsurável é para mim o que te escreverei agora.
    A doutrina espírita muito me chama atenção, quando ela cita que nada é acaso e que coincidências não existem.
    Diz também que temos lapsos de outraS vidaS e talvez essa sua co-relação com a música instrumental sejam fragmentos de vidas anteriores...
    Conheço Nadja há tempos, e o suficiente para simbolizá-la como menina_anjo, sempre meiga, educada, gentil , paciente ,benvolente, sensível.
    Quantasvezes vER MINHA AMIGA TRISTE , chorar por situações DA VIDA, ME CORTAVA O CORAÇÃO E ME REVOLTAVA A ALMA , mas que o Deus onipresente e poderoso resolveu.
    Vê-la sorrir nos faz bem não é?
    São tantos adjetivos que simbolizam minha amiga que o espaço aqui é insuficiente...
    Sempre a inautecerei.
    RODOLFO Saber que Nadja hoje , desfruta do seu AMOR, do seu COMPANHEIRISMO, da sua PARCERIA E DE TANAS OUTRAS AÇÕES ESPIRITUAIS , CARNAIS E SENTIMENTAIS, me fazem acreditar que nada está perdido e todos seremos felizes.
    E a FELICIDADE QUE SINTO PELA MINHA AMIGA NADJA TER SE RELIZADO COMO MULHER, MÃE , COMPANHEIRA E COMO SER HUMANO MARAVILHOSO QUE ELA É.
    ENFIM SE AMEM, SE BUSQUEM ,SE ENAMOREM FAÇAM COMO O SOL QUE RENASCE A CADA MANHÃ RENASÇAM NO AMOR E TODOS OS SENTIMENTOS QUE OS ENVOLVEM MUTUAMENTE.

    ABRAÇOS DA AMIGA PATRÍCIA LIMMA.

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